17/03/09

Estamos Juntos!


"Estamos Juntos!" significa "Ate mais logo!", "Na paz!", "Estamos bem e de acordo". Por exemplo aquando de uma reunião (de mil reuniões - as pessoa aqui adoram reuniões para discutir situações com ou sem solução, novas ou repetidas), depois de determinado assunto, o interlocutor pergunta, finalizando o ponto em agenda: "Estamos juntos?" Adorei esta frase! Mais: Repito-a, no intuito de sentir a reacçã0 ao dito; e não é que sinto?!
Só, ou antes, rodeada de mim, deambulei por ruas de Maputo, onde só gentes de lá andam. Seguras, segura, andei desde o Museu de História Natural até à Baixa, passando pela Catedral, Centro Cultural Franco Moçambicano, jardins, vozes e piropos, chegando ao Mercado Municipal - o meu sitio de eleição! Desta vez, maracujás e as obrigatórias papaias foram as eleitas. Novas amigas das bancas, novos contactos e descontos. Tentações mil, especialmente nas bolsas de vime ou verga, típicas da zona. Desculpada por ser mulher (e gostar! Aliás, gostar de ser, em geral e de ser mulher, em especifico) encomendo mais uma, desta vez de diferente feitio mas com o mesmo fim: apenas transportar um mundo feminino, recheado de tarecos e objectos que quase nunca fazem falta!
Adiante... Faço contas à bolsa e vejo que há que ter tento! Ainda a meio do mês, outro meio se apresenta. Mesmo estando em África, dinheiro faz falta (não fazendo total felicidade, admito; descansem as mentes anti capitalistas e lutadoras pela troca directa!). Regresso, feliz e contente, imponente e sorridente, segura, não muito formosa! (as ancas estão a querer competir com as largas e dançantes que se sentam ao seu/meu lado nas ruas e paragens! Mais um pouco e ver-me-ei de criança castiça e mestiça às costas, feita mochila, envoltas em capulanas, apoiadas em bancos-traseiros femininos, empinados quase que para esse fim), curiosa e expectante pelo primeiro jantar colectivo, temático, de DI's, a acontecer em casa, em minha/nossa casa. Dadas as varias nacionalidades presentes e transeuntes, seguir-se-á esse ou esses mesmos sabores, os internacionais e nacionais dos seus elementos. Hungria dá o mote: Attila e Reka. Brasil, Camarões, PORTUGAL!!!, Brasil, põem-se na fila. Os atrasos da praxe, os cheiros a cobrar bilhete, as cadeiras a encherem. As vozes aumentam, os temas variam, o tempo passa mas bem passado. Converso com Petr, novo DI voluntário da Republica Checa, uma maravilha de pessoa, cabeça, alma e coração! Um gosto! Fotografias mil, planos mil, registos xi.
Rindo e brincando com o Desejado (bacalhau lusitano, a chegar a qualquer momento, por entre desertos, cargas, encomendas e mimos de mãe deixada mas jamais esquecida em terras nortenhas portuguesas - D. Leonor!!!), assomam-se pratos de bolinhos de bacalhau, bacalhau com natas, arroz doce, ..., às mentes presentes. Obrigada D. Leonor! Estamos juntas, juntos, juntando palavras e pensamentos saudosos, saborosos! Em África!

10/03/09

Conceitos

“Não estou para discutir conceitos contigo”, digo eu para mim própria pensando onde estou. Conceito de autoritarismo, de chapa, de segurança, de estação, de confiança, de cor, de temperatura, de valor, de saudade, de presente, de amizade, de limpeza, de tecnologia, de motivação ou mesmo de felicidade. Em África tudo é diferente. Em África tudo é uma aventura. As chuvas quentes, os fins-de-semana, a savana, as pessoas, o olhar, o tempo, os planos e prioridades, as compras, a beleza – tudo se apresenta diferente. Ainda não decidi se gosto ou se estou em plena fase de assimilação e adaptação. Ainda não decidi se vou ficar para lá do previsto ou não. Ainda não senti se fui aceite por África ou não. Tocada pela fresca ventosa, cinza e acomodada do bem-estar de um domingo em casa, olho para Moçambique com devida distancia e respeito. Munida de repelentes, protectores e espírito aberto, tento relativizar a imagem negra e caótica que por vezes o país tem. Involuntariamente faço oferendas aos deuses: telemóvel a ser sacrificado ao mais esperto, atento e necessitado. A oferta é aceite e material desaparece. Não há culpados ou inocentes. Há situações e acasos. Respiro fundo e continuo. Por entre ruas e ruelas, com rumo à Casa (de) Elefante, isto é, casa (de) capulanas em Maputo. Cinquenta meticais por tecido, cores e desenhos que só África oferece. Tecidos com destinos vários, em diferentes ideias e aparatos. Daqui para Feira de Sábado, shoping Maputo, Mercado Municipal e Continental (Pastelaria). Cristal, para outras aventuras. Paragem breve em chinelos de rua, brincando ao calça, descalça, fala, negoceia, decide pelos mais belos e compra! O peso aumenta, o cansaço também. Teatro Avenida para segundas núpcias. Peça vai ficar mais dias no próximo mês. Digo “Boa Tarde”, aos agentes locais de autoridade e o ritmo continua. Percorro mais ruas, mais nomes e pontos-chave. O regresso, o balanço do dia. Mochila com papaias, água, chinelos, cera para chão (dizem que espanta baratas!), chocolates (aos montes… ), novo lençol para cama (mordomia de um bom dormir), sardinhas em lata e croissants. À chegada castanhas caju, abacates e ananás, na amiga da banca ou na banca amiga. Chego a casa. Pessoal no jardim, intervalo nas limpezas semanais. A atmosfera convida a dois dedos de prosa. Uma mão cheia de dedos, uma língua pronta a dar palavras! Uma puxa outra e o tempo voa. Despedida de Andreia agendada para mais logo. Primeira saída! Primeiro Maputo à noite. Primeiro bar. Rua d’Artes, conceito cultural das redondezas. Bibelôs africanos com influencias de bom-gosto europeu. Sons animam a noite, pessoas coloridas adornam o lugar. “Marcha pela paz e não-violência” dá o mote. Sente-se bem, sente-se África. Quer-se voltar. Um mês quase passado. Muito por passar. Projectos mil. Labirinto de sinais. Livro de instruções nem sempre presente. Arrisco. Risco. Petisco! Conceitos? Não discuto.

27/02/09

Autoritarismo

Há autoritarismo em África. Há em Moçambique, pelo menos. De professores para alunos, de alunos para alunos, de brancos para negros mas principalmente de negros para negros. Os velhos tempos coloniais já lá vão mas a lembrança é forte e os restos deixados para trás são dianteiros no dia-a-dia. Há muito trabalho a fazer. Não é desculpa para nada fazer mas que há, há. A nova onda de voluntariado tem boas intenções (não toda mas grande parte). Tentamos fundir-nos para dar o exemplo, o bom exemplo. Não bebemos, não fumamos, o discurso é de bons valores e costumes, as palavras de bom pastor! O autoritarismo continua. Somos muzungos, somos brancos, somos meios. Eles são eles e nós somos nós. A fundição não existe. A ideia ou ideal, sim. Acho eu. Sinto. Vejo. Mal? Não, não estou mal; estou em adaptação! Concordo? Não. Aceito? Não. Conformo? Em parte. Destaco-me? Sim, levemente, com alguns passes de dança, ao som de Ravel, em pantufas. Falta saber onde vou. Mapa no bolso, lanterna na testa mas só agora cheguei. Na escola, com alunos, dando aulas, conversando com alunos e professores, com colegas e iguais, sou eu. Mostro o que sei e o que acho certo. Dou espaço ao pensamento e à decisão. Assino pautas onde a precisão nem sempre esteve presente. Aprendo com as primeiras provas dos alunos, o sistema, o programa. Há que mudar. Na proxima prova, nas proximas micros, na proxima reunião. Já agora, não na próxima. Cartas a escrever, 1001 pesquisas a fazer, internet... oh internet!!! que saudades da rapidez da internet europeia, na nitidez do Skype, convites a fazer, sitios a mostrar e visitar com alunos, visitas de estudo, matérias a estudar e a inserir no sistema, portas a abrir e ideias a partilhar, alunos a servir, alunos a instruir. Sonhadora mas com pés no chão, chinelos, descalça!

23/02/09

Sabedoria Geral

Que vergonha... meu Deus... vejo blogs e blogs de amigos, conhecidos e anónimos, relatando exactamente o que estou a viver. Que descrição! Que expressão! Que forma sábia, simples, filosófica, representativa, global do escrever e descrever. Mais: a "entendida" em filosofia é suposto ser eu... Conhecedora da arte de argumentar, de expressar, de escrever... serei?! Amigos pedem, solicitam palavras minhas, espelho de sentimentos e experiencias vividas. Oh como estão enganados! Amigos: não esperem muito! Antes, se quiserem realmente ler qualidade vejam os blogs http://antonio-muzungu-africa.blogspot.com, http://quemfoibarrabas.blogspot.com, http://myroamingmind.blogspot.com ou mesmo www.ajgyio.blogol.hu. Todos conhecidos e camaradas das mesmas lides! Muitos mais há mas para já ficam estes, embaixadores do projecto, do programa, do sonho, da experiencia, da vida.

É bom, de vez em quando, levar um xuto na arrogancia e escorregar do pedestal da unicidade e idiotice e rir do tanto e quanto enganados estávamos. É engraçado, ao mesmo tempo! Rir de nós proprios, nem todos conseguem. Até para isso é preciso ser especial (e lá voltamos nós ao orgulho intima e egoísta!).

Claro que todos somos diferentes e diferentes são as palavras reflexo dos dias em Africa, na Dinamarca, em Portugal, no Brasil, etc. Em tempos anti rosa, hoje vejo-me escrevedora de palavras e reacções rosa; aliás, rosa, laranja, amarelo, oh como gosto do amarelo! Sou preto, sou branco, não sou cinzento mas mais Boavista! (e eis que entra o Futebol!)
Mais aqui do que nunca sinto atracção pelas cores, pela bijutaria, pela vaidade! Verdade, ao contrário da Dinamarca, em África sinto necessidade de estar feminina. Estranho, eu sei, e não pensem as mentes perversas que anda mouro na costa, que não anda! É dos ares, concerteza! Das comidas, da xima, do amendoim a rodes, da banana, do côco, do abacate, da papaia, do feijão. Dinheiro, esse não abunda; daí os luxos alimentícios serem parcos na variedade e quantidade. Falam das maravilhas do peixe daqui mas pelo que sondei é caro... mesmo para branco; talvez para o próximo mês! Falando em branco e para os que me conhecem e apelidam de albina, dá gosto olhar para mim agora: estou a ficar trigueira!!! Não homogénea mas já dá para fazer o gosto à vista!

Agora, se me dão licença, vou ver mais uma apresentação de uns DI's (Development Instructors) chegados ao termo do seu projecto, um deles tuga, por excelência, de Coruche e filósofo! Até!

20/02/09

Salas de Aula

Primeiros Acordes!
Meus Alunos no seu primeiro contacto com as escolas primárias.
As salas de aula. As quatro paredes na sombra da árvore. O som do giz. Ser professor em Africa.

16/02/09

Primeiras imagens

Imagens e sensações! A chegada na fronteira, a presença intensa e avassaladora das redes telefonicas, as pessoas e as sombras (quem é quem), o respirar da cidade de Maputo, as cores, a educação, os livros a desenterrar, a ler, a partilhar. Uma primeira agua de coco! Recordações do Brasil! Semelhanças muitas. A primeira boleia, a primeira chapa, o primeiro amasso africano! País quente, necessidades e oportunidades à espreita. Sente-se bem. Come-se mal. Vive-se diferente. Gosto!