27/02/09

Autoritarismo

Há autoritarismo em África. Há em Moçambique, pelo menos. De professores para alunos, de alunos para alunos, de brancos para negros mas principalmente de negros para negros. Os velhos tempos coloniais já lá vão mas a lembrança é forte e os restos deixados para trás são dianteiros no dia-a-dia. Há muito trabalho a fazer. Não é desculpa para nada fazer mas que há, há. A nova onda de voluntariado tem boas intenções (não toda mas grande parte). Tentamos fundir-nos para dar o exemplo, o bom exemplo. Não bebemos, não fumamos, o discurso é de bons valores e costumes, as palavras de bom pastor! O autoritarismo continua. Somos muzungos, somos brancos, somos meios. Eles são eles e nós somos nós. A fundição não existe. A ideia ou ideal, sim. Acho eu. Sinto. Vejo. Mal? Não, não estou mal; estou em adaptação! Concordo? Não. Aceito? Não. Conformo? Em parte. Destaco-me? Sim, levemente, com alguns passes de dança, ao som de Ravel, em pantufas. Falta saber onde vou. Mapa no bolso, lanterna na testa mas só agora cheguei. Na escola, com alunos, dando aulas, conversando com alunos e professores, com colegas e iguais, sou eu. Mostro o que sei e o que acho certo. Dou espaço ao pensamento e à decisão. Assino pautas onde a precisão nem sempre esteve presente. Aprendo com as primeiras provas dos alunos, o sistema, o programa. Há que mudar. Na proxima prova, nas proximas micros, na proxima reunião. Já agora, não na próxima. Cartas a escrever, 1001 pesquisas a fazer, internet... oh internet!!! que saudades da rapidez da internet europeia, na nitidez do Skype, convites a fazer, sitios a mostrar e visitar com alunos, visitas de estudo, matérias a estudar e a inserir no sistema, portas a abrir e ideias a partilhar, alunos a servir, alunos a instruir. Sonhadora mas com pés no chão, chinelos, descalça!

23/02/09

Sabedoria Geral

Que vergonha... meu Deus... vejo blogs e blogs de amigos, conhecidos e anónimos, relatando exactamente o que estou a viver. Que descrição! Que expressão! Que forma sábia, simples, filosófica, representativa, global do escrever e descrever. Mais: a "entendida" em filosofia é suposto ser eu... Conhecedora da arte de argumentar, de expressar, de escrever... serei?! Amigos pedem, solicitam palavras minhas, espelho de sentimentos e experiencias vividas. Oh como estão enganados! Amigos: não esperem muito! Antes, se quiserem realmente ler qualidade vejam os blogs http://antonio-muzungu-africa.blogspot.com, http://quemfoibarrabas.blogspot.com, http://myroamingmind.blogspot.com ou mesmo www.ajgyio.blogol.hu. Todos conhecidos e camaradas das mesmas lides! Muitos mais há mas para já ficam estes, embaixadores do projecto, do programa, do sonho, da experiencia, da vida.

É bom, de vez em quando, levar um xuto na arrogancia e escorregar do pedestal da unicidade e idiotice e rir do tanto e quanto enganados estávamos. É engraçado, ao mesmo tempo! Rir de nós proprios, nem todos conseguem. Até para isso é preciso ser especial (e lá voltamos nós ao orgulho intima e egoísta!).

Claro que todos somos diferentes e diferentes são as palavras reflexo dos dias em Africa, na Dinamarca, em Portugal, no Brasil, etc. Em tempos anti rosa, hoje vejo-me escrevedora de palavras e reacções rosa; aliás, rosa, laranja, amarelo, oh como gosto do amarelo! Sou preto, sou branco, não sou cinzento mas mais Boavista! (e eis que entra o Futebol!)
Mais aqui do que nunca sinto atracção pelas cores, pela bijutaria, pela vaidade! Verdade, ao contrário da Dinamarca, em África sinto necessidade de estar feminina. Estranho, eu sei, e não pensem as mentes perversas que anda mouro na costa, que não anda! É dos ares, concerteza! Das comidas, da xima, do amendoim a rodes, da banana, do côco, do abacate, da papaia, do feijão. Dinheiro, esse não abunda; daí os luxos alimentícios serem parcos na variedade e quantidade. Falam das maravilhas do peixe daqui mas pelo que sondei é caro... mesmo para branco; talvez para o próximo mês! Falando em branco e para os que me conhecem e apelidam de albina, dá gosto olhar para mim agora: estou a ficar trigueira!!! Não homogénea mas já dá para fazer o gosto à vista!

Agora, se me dão licença, vou ver mais uma apresentação de uns DI's (Development Instructors) chegados ao termo do seu projecto, um deles tuga, por excelência, de Coruche e filósofo! Até!

20/02/09

Salas de Aula

Primeiros Acordes!
Meus Alunos no seu primeiro contacto com as escolas primárias.
As salas de aula. As quatro paredes na sombra da árvore. O som do giz. Ser professor em Africa.

16/02/09

Primeiras imagens

Imagens e sensações! A chegada na fronteira, a presença intensa e avassaladora das redes telefonicas, as pessoas e as sombras (quem é quem), o respirar da cidade de Maputo, as cores, a educação, os livros a desenterrar, a ler, a partilhar. Uma primeira agua de coco! Recordações do Brasil! Semelhanças muitas. A primeira boleia, a primeira chapa, o primeiro amasso africano! País quente, necessidades e oportunidades à espreita. Sente-se bem. Come-se mal. Vive-se diferente. Gosto!




Tic Tac

Seis meses passaram num limpar de lentes. O lugar foi Dinamarca, foi Tvind, mas agora os olhares voltam-se para sul. Não para Portugal (esses estão sempre lá!) mas para Africa - novas cores e sabores. O programa DI - Development Instructor, na escola Tvind, Dinamarca, mesmo não sendo perfeito, é dos melhores que encontrei e continuo a encontrar. Alertas, há muitos mas cabe-nos a nós decidir o que queremos, como queremos e quando queremos. Se quisermos, o dificil vai ser parar de querer mais e mais! Eu quis, eu quero, eu vou querer! O pecado da insatisfação!