10/03/09

Conceitos

“Não estou para discutir conceitos contigo”, digo eu para mim própria pensando onde estou. Conceito de autoritarismo, de chapa, de segurança, de estação, de confiança, de cor, de temperatura, de valor, de saudade, de presente, de amizade, de limpeza, de tecnologia, de motivação ou mesmo de felicidade. Em África tudo é diferente. Em África tudo é uma aventura. As chuvas quentes, os fins-de-semana, a savana, as pessoas, o olhar, o tempo, os planos e prioridades, as compras, a beleza – tudo se apresenta diferente. Ainda não decidi se gosto ou se estou em plena fase de assimilação e adaptação. Ainda não decidi se vou ficar para lá do previsto ou não. Ainda não senti se fui aceite por África ou não. Tocada pela fresca ventosa, cinza e acomodada do bem-estar de um domingo em casa, olho para Moçambique com devida distancia e respeito. Munida de repelentes, protectores e espírito aberto, tento relativizar a imagem negra e caótica que por vezes o país tem. Involuntariamente faço oferendas aos deuses: telemóvel a ser sacrificado ao mais esperto, atento e necessitado. A oferta é aceite e material desaparece. Não há culpados ou inocentes. Há situações e acasos. Respiro fundo e continuo. Por entre ruas e ruelas, com rumo à Casa (de) Elefante, isto é, casa (de) capulanas em Maputo. Cinquenta meticais por tecido, cores e desenhos que só África oferece. Tecidos com destinos vários, em diferentes ideias e aparatos. Daqui para Feira de Sábado, shoping Maputo, Mercado Municipal e Continental (Pastelaria). Cristal, para outras aventuras. Paragem breve em chinelos de rua, brincando ao calça, descalça, fala, negoceia, decide pelos mais belos e compra! O peso aumenta, o cansaço também. Teatro Avenida para segundas núpcias. Peça vai ficar mais dias no próximo mês. Digo “Boa Tarde”, aos agentes locais de autoridade e o ritmo continua. Percorro mais ruas, mais nomes e pontos-chave. O regresso, o balanço do dia. Mochila com papaias, água, chinelos, cera para chão (dizem que espanta baratas!), chocolates (aos montes… ), novo lençol para cama (mordomia de um bom dormir), sardinhas em lata e croissants. À chegada castanhas caju, abacates e ananás, na amiga da banca ou na banca amiga. Chego a casa. Pessoal no jardim, intervalo nas limpezas semanais. A atmosfera convida a dois dedos de prosa. Uma mão cheia de dedos, uma língua pronta a dar palavras! Uma puxa outra e o tempo voa. Despedida de Andreia agendada para mais logo. Primeira saída! Primeiro Maputo à noite. Primeiro bar. Rua d’Artes, conceito cultural das redondezas. Bibelôs africanos com influencias de bom-gosto europeu. Sons animam a noite, pessoas coloridas adornam o lugar. “Marcha pela paz e não-violência” dá o mote. Sente-se bem, sente-se África. Quer-se voltar. Um mês quase passado. Muito por passar. Projectos mil. Labirinto de sinais. Livro de instruções nem sempre presente. Arrisco. Risco. Petisco! Conceitos? Não discuto.