- Eram o quê?...
- Eramos seres. Eramos seres com um corpo. Eramos corpos. Corpos de longos braços, tão
longos que arrastavam no chão, arrastando-nos e deixando-se levar como que contrafeitos.
Longos dedos, das mãos e dos pés, em pulsos e tornozelos nem sempre firmes. Mãos côncavas
bradando verticalmente a um infinito descido à terra do escultor Francisco Franco, como que
dizendo ou pedindo algo. Pernas à deriva, olhares atentos, ouvidos à escuta, narizes
congestionados, postura en garde e muitas sinapses. Talvez até demais!
- Eram esculturas?
- Apanhados desprevenidos, seríamos mas vistos à lupa eramos seres. Seres com um corpo,
corpo vivo, tomando consciência das partes e do todo, em pulsão, como que em jogos de
orquestra em tempo de ensaios, seguindo um diapasão que dava o tom. Eramos pupilos de
bata e lápis na boca!
- Havia alguma batuta?
- Claro! Diapasão, batuta, abelha-mestra, mestre, maestrina, czarina, bailarina, o que queiras
chamar. Havia animais, frutas, ferrugem, corpos, diafragmas, narizes, pés e mãos. Olhos. Tudo
em partes, tudo num todo de meia-luz. De repente: boca. Som! Voz! Palavras! “São como um
cristal, as palavras. (…) inseguras navegam”, inseguros seguíamos, insistíamos, mostrávamos,
furtávamos, voltávamos, amávamos, ainda que mal.
- Trágico…
- Pelo contrário, allegretto! Ainda que mal, continuamos mas melhores, moderado melhor. Os
braços de tão longos tornaram-se algo graciosos, esvoaçantes, ainda descoordenados mas
felizes. Os longos dedos, das mãos e dos pés, em pulsos e tornozelos nem sempre firmes,
ajudavam à festa. Mãos concavas exalavam energia em todas as direções, como que dizendo:
mais. As pernas ainda titubeavam, os olhares atentos mas descontraídos, os ouvidos juntavam-
se aos narizes e bocas, esquecendo-se, por vezes, do resto corpo e vice-versa. Corpo
ressoador. Acrescente-se pescoços, cabeças, ombros e mais olhos. A postura en garde mas
num canteiro do jardim das delícias. Sinapses? Sim mas non troppo! Simbiose.
- E tu?
- Eu melhorei timidamente mas continuo a ser mais corpo, mais movimento, mais olhos e
ouvidos, mais musica, mais pena, mais sinapse, mais gesto, ainda tensão; menos voz, menos
palavra com som. A voz é o meu silêncio. Contudo o corpo do silêncio agora não se cala: dó si
dó ré mi, furando a parede. Obrigada!
- Ah!
- Reflexões!
24/05/18
11/05/18
Amendoim
Amendoim
A descascar.
Do Saco a tirar.
Salmoura por acrescentar.
Azia eminente.
Saliva em boca crescente.
Cruel destruição por chegar.
A descascar.
Do Saco a tirar.
Salmoura por acrescentar.
Azia eminente.
Saliva em boca crescente.
Cruel destruição por chegar.
Alimento
Alimento
Alimento do corpo e da alma.
Pão e vinho.
Corpo e sangue.
Doce e salgado.
Toque digital.
Alimento virtual.
Alimento do corpo e da alma.
Pão e vinho.
Corpo e sangue.
Doce e salgado.
Toque digital.
Alimento virtual.
Visita
Como quem parte e regressa.
Como quem completa sem nunca terminar.
Como quem sente...
Como quem volta querendo estar de volta.
Como quem completa sem nunca terminar.
Como quem sente...
Como quem volta querendo estar de volta.
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