11/01/10

Ideias

Ideias emergem, levedam, cochicham e espreitam. Ideias... Ideias!

04/01/10

Recomeçar, Retomar, Reactivar


Sem comentários... aliás, com mil e um comentários! Falam, falam, falam mas não dizem nada. Talvez, mas ele há coisas que o melhor é mesmo extravasar, destapar, falar.
Cada vez mais o lugar-comum - "o comportamento do ser humano é do caneco" - repete-se vezes sem conta. Como humano, como ágil do meu/seu comportamento, sinto-me estranha, sorrio e perco tempo a pensar nisso. Nisso, na acção/reacção ao que se passa na passada do meu correr.
Hoje acordei para morrer face ao retomar do trabalho, vida, ritmo, neste primeiro momento após a entrada do novo ano. Tão estranho... quando estamos presos à cadeia da rotina, da agenda, nada parece estar fora do sitio. Quer dizer, mesmo que o horário teime em andar de plataformas, a coisa lá vai sendo levada, a custo mas sempre a pensar que grão a grão enche a codorniz o papo. Os ovos não são classe L mas tudo vai do seu acompanhamento e apetite!
Estava eu a dizer... Rotina, sim. Antes: anti-rotina! O que acontece quando se quebra tal previsibilidade, tal arrumação geométrica, por cores e feitios e ordem alfabética? Ok, não exageremos... sou eu aqui passada a químico e não a irmã Lili, cujo mundo tem de ter lógica, ordem e explicação. Se um dia descobrisse que a terra não é redonda, que o Sol não está no centro e que se desconhece quem anda por aquelas bandas, a bússola daria nó e a casa de bonecas ruiria! Adiante...
É fucking great!!!! É estupidamente soberbo, bestialmente orgíaco! Mas por quanto tempo? Voluntaria ou involuntariamente não nos é possível viver em eterna graça do "doce fazer nada". Antes de descobrirmos tal destino, gozamos! Gozamos? Tenho as minhas dúvidas. A noção de tempo, o tempo perdido e o tempo bem empregue, o render do tempo, a sua gestão, etc., etc., e tudo para quê? Para termos o desplante de nos convencermos a nós próprios que somos importantes, úteis, activos, na construção de um mundo, país, cidade, rua, casa, quarto, secretária.
Tudo para dizer, que as férias são a maçã da serpente? Somos naturalmente pecadores e o rescaldo ou penitencia é o trabalho? Entrando em pormenor, o Domingo... quem nesta terra goza verdadeiramente o Domingo? Poucos, os felizes! Domingo já lembra Segunda. Segunda é um martírio. Agora, pensem em maior escala: o depois das férias.
Hoje acordei para morrer (de 10 em 10min, 1h e 1/2 antes do despertador), num desassossego existencial, numa negação de identidade, face ao retomar de um normal dia de trabalho. Cheguei a ficar preocupada, mesmo aflita, com tal estado. Uma sensação de não ser capaz de continuar com o herculeamente atingido no mês/ano passado, de não querer regressar à velha eu. Estranho! Arrastada, pontapeada por uma força que me ultrapassa, dei comigo no trabalho. Vai uma, vai outra e lá estava eu de regresso, completamente on, dentro do ritmo normal da minha velha agenda. Coisas para fazer, aos milhares, pendentes, nem queiram imaginar! Mesmo assim, café na máquina, doce na alma (e não só!...) e eis-me numa tentativa de evasão ao óbvio laboro pós-laboral de que me encontro siamesa.
É do caneco, não?! Achei interessante, a alteração,progresso ou regresso, do normal - férias - calvário - normal. Não mata mas mói! Custa..... mas para o nosso bem, para o andamento das coisas e loisas, tem de ser. Quem diz? Quem manda? O pior é que somos nós. Recomeçados, retomados, reactivados por nós próprios para mais tarde voltarmos a perdermo-nos (encontrarmo-nos?), a des-tomar (a destronar?), a desactivar. Dessa negação constante nasce a nossa existência, o nosso eu. Somos uma negação? Não, talvez uma mera afirmação das muitas e variadas negações. Não somos o não ser; somos o ser, sendo e não sendo. É diferente!

08/05/09

Jantar LusoAfrican

Benvindos ao jantar português em plena África!
Vendo bem, não é em plena África pois Maputo não respira a imaginação e palpitação africanas; mas ajuda!
So, from AfricanAlive, mais uma paginação de um acontecimento passado.
Este blog raramente está actualizado pois a internet, falta de tempo e disposição para enfiar pequenas mensagens em garrafas e lança-las ao mar cibernauta, o não permitem. Só para terem uma ideia, este jantar aconteceu aí há três semanas, mais coisa, menos coisa!
Todos os antecedentes do evento gritavam por algo especial: começando pelo actor principal - o bacalhau, vindo expressamente de Portugal, via CTT. Além de ter sido carissímo, demorou eternidades a chegar. Já quando não havia esperança do tão desejado chegar por entre a neblina, ou talvez pelo sol abrasador da madrugada, eis quando, chegou! Passado mês e meio... Resumindo: o correio funciona mas tem de se ficar com o numero do registo da encomenda, deixar passar uma semana e depois ir aos correios aqui de Maputo e perguntar "Quê dê?" - informação fidedigna, do próprio responsavel dos correios moçambicanos.
Bom, depois do bacalhau chegar - obrigada D. Leonor, minha mãe! - foi orquestrar o menu, fazer compras e mãos à obra! Éramos 16 pessoas, vindas de vários países: Portugal (moi), Brasil (Aline, Carlos, Cris, Manuela, Raúl, Stella, Tatiana, Tiago, 2 di's de passagem q sem serem convidadas se infiltraram), Hungria (Reka), Camarões (Mustafa), Moçambique (amiga de Mustafá), Chile (Daniel) e Republica Checa (Peter). Todos no bom espírito e com apetite e curiosidade da praxe, de fazer as delicias de quem cozinha! Não esquecer que a fome é o melhor condimento da comida!
So, o menu... perdoem-me portuguesas experts mas o menu representante do nosso país foi: Tremoços, salada de tomate, Bacalhau com Natas, pasteis de bacalhau com aroz de tomate e rabanadas de sobremesa. Inicialmente foi pensado um Leite Creme ou Arroz Doce mas dado q já havia arroz e sem tempo p fazer leite creme, fui pelo caminho mais fácil! Em geral tudo ficou bom mas uma das melhores partes foi a preparação: eu, Raúl e Manuela na cozinha! Obrigada a ambos, à sua ajuda e boa disposição. Eu dava as ordens e os dois brasucas executavam, sempre tecendo malhas e opiniões sobre o seu país (Brasil) e Portugal - diferenças, comparações, colonização, riquezas gastronómicas e imaginação sem limites!

As condições são as que se apresentam! Tachos e panelas mudos e negros de tantas estórias para contar, fogão com coluna quebrada, mosquitos e outros animais passeando e ajudando à festa, etc.

Festa, festa, começou com discurso, apresentação do menu, explicação do modo de confecção e abertura da sessão! Bon apetit!
Claro que o arroz colou ao tacho e torrou, a salada foi pouca, o bacalhau ficou muito seco e as rabanadas duras e enjoativas pois não foram embebidas em leite morno quente mas frio e o açucar foi mascavado e granulado. Não se pode ter tudo!!! O importante é o sabor, e esse estava lá, descansem as confrarias do bacalhau e bons garfos lusitanos!
Houve música, conversas, comentários, fotos e filmagens. Danças e muito mais.

Eis, caros (caros: palavra engraçada. São realmente muito caros para mim, e cada vez vejo mais isso com a distancia, conhecimento(s), saudade), mais um relatório dos dias de uma (uns) DI's em África. A minha está longe de ser só isto. O trabalho na e com a escola é de peso mas ainda não expus o seu tic-tac como deve ser - está na manga!
Se estou a gostar? Muito! Se recomendo? A 100%. A impressão que tenho até agora é que mais do que ajudar, sinto que estou a ser ajudada. África é uma escola! Espero passar na prova e com distinção.
Quanto a outros jantares temáticos, alheiras, moiras e cozido à portuguesa estão em banho-maria. Confirmar presenças, p. f.!

17/03/09

Estamos Juntos!


"Estamos Juntos!" significa "Ate mais logo!", "Na paz!", "Estamos bem e de acordo". Por exemplo aquando de uma reunião (de mil reuniões - as pessoa aqui adoram reuniões para discutir situações com ou sem solução, novas ou repetidas), depois de determinado assunto, o interlocutor pergunta, finalizando o ponto em agenda: "Estamos juntos?" Adorei esta frase! Mais: Repito-a, no intuito de sentir a reacçã0 ao dito; e não é que sinto?!
Só, ou antes, rodeada de mim, deambulei por ruas de Maputo, onde só gentes de lá andam. Seguras, segura, andei desde o Museu de História Natural até à Baixa, passando pela Catedral, Centro Cultural Franco Moçambicano, jardins, vozes e piropos, chegando ao Mercado Municipal - o meu sitio de eleição! Desta vez, maracujás e as obrigatórias papaias foram as eleitas. Novas amigas das bancas, novos contactos e descontos. Tentações mil, especialmente nas bolsas de vime ou verga, típicas da zona. Desculpada por ser mulher (e gostar! Aliás, gostar de ser, em geral e de ser mulher, em especifico) encomendo mais uma, desta vez de diferente feitio mas com o mesmo fim: apenas transportar um mundo feminino, recheado de tarecos e objectos que quase nunca fazem falta!
Adiante... Faço contas à bolsa e vejo que há que ter tento! Ainda a meio do mês, outro meio se apresenta. Mesmo estando em África, dinheiro faz falta (não fazendo total felicidade, admito; descansem as mentes anti capitalistas e lutadoras pela troca directa!). Regresso, feliz e contente, imponente e sorridente, segura, não muito formosa! (as ancas estão a querer competir com as largas e dançantes que se sentam ao seu/meu lado nas ruas e paragens! Mais um pouco e ver-me-ei de criança castiça e mestiça às costas, feita mochila, envoltas em capulanas, apoiadas em bancos-traseiros femininos, empinados quase que para esse fim), curiosa e expectante pelo primeiro jantar colectivo, temático, de DI's, a acontecer em casa, em minha/nossa casa. Dadas as varias nacionalidades presentes e transeuntes, seguir-se-á esse ou esses mesmos sabores, os internacionais e nacionais dos seus elementos. Hungria dá o mote: Attila e Reka. Brasil, Camarões, PORTUGAL!!!, Brasil, põem-se na fila. Os atrasos da praxe, os cheiros a cobrar bilhete, as cadeiras a encherem. As vozes aumentam, os temas variam, o tempo passa mas bem passado. Converso com Petr, novo DI voluntário da Republica Checa, uma maravilha de pessoa, cabeça, alma e coração! Um gosto! Fotografias mil, planos mil, registos xi.
Rindo e brincando com o Desejado (bacalhau lusitano, a chegar a qualquer momento, por entre desertos, cargas, encomendas e mimos de mãe deixada mas jamais esquecida em terras nortenhas portuguesas - D. Leonor!!!), assomam-se pratos de bolinhos de bacalhau, bacalhau com natas, arroz doce, ..., às mentes presentes. Obrigada D. Leonor! Estamos juntas, juntos, juntando palavras e pensamentos saudosos, saborosos! Em África!

10/03/09

Conceitos

“Não estou para discutir conceitos contigo”, digo eu para mim própria pensando onde estou. Conceito de autoritarismo, de chapa, de segurança, de estação, de confiança, de cor, de temperatura, de valor, de saudade, de presente, de amizade, de limpeza, de tecnologia, de motivação ou mesmo de felicidade. Em África tudo é diferente. Em África tudo é uma aventura. As chuvas quentes, os fins-de-semana, a savana, as pessoas, o olhar, o tempo, os planos e prioridades, as compras, a beleza – tudo se apresenta diferente. Ainda não decidi se gosto ou se estou em plena fase de assimilação e adaptação. Ainda não decidi se vou ficar para lá do previsto ou não. Ainda não senti se fui aceite por África ou não. Tocada pela fresca ventosa, cinza e acomodada do bem-estar de um domingo em casa, olho para Moçambique com devida distancia e respeito. Munida de repelentes, protectores e espírito aberto, tento relativizar a imagem negra e caótica que por vezes o país tem. Involuntariamente faço oferendas aos deuses: telemóvel a ser sacrificado ao mais esperto, atento e necessitado. A oferta é aceite e material desaparece. Não há culpados ou inocentes. Há situações e acasos. Respiro fundo e continuo. Por entre ruas e ruelas, com rumo à Casa (de) Elefante, isto é, casa (de) capulanas em Maputo. Cinquenta meticais por tecido, cores e desenhos que só África oferece. Tecidos com destinos vários, em diferentes ideias e aparatos. Daqui para Feira de Sábado, shoping Maputo, Mercado Municipal e Continental (Pastelaria). Cristal, para outras aventuras. Paragem breve em chinelos de rua, brincando ao calça, descalça, fala, negoceia, decide pelos mais belos e compra! O peso aumenta, o cansaço também. Teatro Avenida para segundas núpcias. Peça vai ficar mais dias no próximo mês. Digo “Boa Tarde”, aos agentes locais de autoridade e o ritmo continua. Percorro mais ruas, mais nomes e pontos-chave. O regresso, o balanço do dia. Mochila com papaias, água, chinelos, cera para chão (dizem que espanta baratas!), chocolates (aos montes… ), novo lençol para cama (mordomia de um bom dormir), sardinhas em lata e croissants. À chegada castanhas caju, abacates e ananás, na amiga da banca ou na banca amiga. Chego a casa. Pessoal no jardim, intervalo nas limpezas semanais. A atmosfera convida a dois dedos de prosa. Uma mão cheia de dedos, uma língua pronta a dar palavras! Uma puxa outra e o tempo voa. Despedida de Andreia agendada para mais logo. Primeira saída! Primeiro Maputo à noite. Primeiro bar. Rua d’Artes, conceito cultural das redondezas. Bibelôs africanos com influencias de bom-gosto europeu. Sons animam a noite, pessoas coloridas adornam o lugar. “Marcha pela paz e não-violência” dá o mote. Sente-se bem, sente-se África. Quer-se voltar. Um mês quase passado. Muito por passar. Projectos mil. Labirinto de sinais. Livro de instruções nem sempre presente. Arrisco. Risco. Petisco! Conceitos? Não discuto.